sábado, 13 de abril de 2013

Se a saudade vier, diz que eu não tô



Fico meio transtornada quando penso nessa coisa complexa a que chamam saudade. Ás vezes pareço aquela garotinha de uns anos atrás que ficava na casa dos avós enquanto os pais iam viajar e se sentia tão vulnerável, tão perdida que ia pra dentro de um quarto chorar baixinho. Nessa época tudo parece grande. O salto alto da nossa mãe, a estante de livros da sala, a escada pra subir até o último andar do apartamento, a saudade, que às vezes nem precisamos conhecer a palavra para saber o que ela significa... Nos sentimos tão pequenos nesse mundo infinito o qual parece que nunca cresceremos pra ver lá de cima. E cá entre nós, tem horas que dá vontade de voltar pra aquela esquina mais antiga do passado, onde papai cobria nossos olhos com a mão na hora daquela cena quente da novela das oito.
Mas então a gente cresce. E é um perigo se você ainda tem seus olhos vendados por uma mão invisível que nem é mais a do seu pai. O mundo vai mostrando sua cara feia à medida que o tempo passa, as dificuldades aparecem, e não se enxerga mais o Maranhão como um lugarzinho em forma de coração no Brasil (meu primo me ensinou a identificar meu estado assim, nunca me esqueço) e ele passa a ser uma terra longínqua onde você sonha em voltar algum dia igual poeta no exílio. Agora ele não é apenas formato de coração, bem como está no seu, porque quando se cresce os significados das coisas mudam. E ah, lembra do cubinho mágico da infância, aquele que você morria de ódio porque não conseguia ajeitar as cores no lugar certo? Quando se cresce, ele não apenas é um cubinho mágico, mas pode ser comparado com a vida, você arruma de um lado, bagunça o outro.
Em suma, há dias em que você não dá a mínima, até gosta de estar “exilado”, outros, a vontade é de jogar aquela montanha de livros a anotações no chão gritar “Dane-se!” e ir buscar consolo assistindo O rei leão entre sua mãe e seu pai. Lá em casa.
O que me intriga mais é o jeito que a as coisas têm de estarem sempre se renovando, prioridades novas aparecem. O que leva alguém a deixar de chorar no quarto baixinho por causa da falta dos pais e chorar porque sente falta de alguém mais (no meu caso choro porque vou mal em toda prova de exatas até hoje, certo?) e depois algo fantástico acontece e você passa a achar tudo bobagem, inclusive os dramas infantis de até bem pouco tempo atrás. Tem coisas que são divertidíssimas de relembrar, mas dependendo da gravidade, você sente é vergonha. Parece que nem sou a mesma pessoa e (graças a Deus) nem me pareço com ela. Gosto de lembrar dessa pessoa como alguém que contribuiu para o meu atual desenvolvimento que resulta um equilíbrio, onde eu hoje sou F e meu eu interior é Fat.
Nerdizisses fajutas a parte, o que anda me incomodando pra valer é que ainda existem pessoas que não encontraram seu equilíbrio. Pessoas de bem daqui, pertinho de mim. Explicaria meu desconforto a frase brega “longe dos olhos longe do coração”, mas eu prefiro a ideia de que que é possível amar muito alguém, mas o tamanho do seu amor por uma pessoa nunca será páreo para o tamanho da saudade que você vai sentir dela. Tá, eu tirei esse trecho de O Teorema de Katherine que foi mais um livro que eu comecei a ler e não terminei pela falta de tempo. O que eu quero dizer é que essa foi mais uma frase que ficou na minha cabeça e eu acabei decorando, como sempre faço, é meio que mecânico (queria que fosse desse jeito com as fórmulas de física também), assim como o próprio sentimento de estar nostálgico ao mesmo que se está satisfeito longe de todo aquele monte de passado.
E o alívio? Nada como a distância para nos injetar uma boa dose de liberdade na veia. Parece papo furado dizer que vai pra longe, começar uma vida nova e iniciar do zero, mas não é. Quando eu penso que poderia sentir falta, eu lembro o quanto eu perdi por me importar com coisas pequenas que nada me acrescentaram, porque sim, há uma imensidão dessas coisas pequenas em que não se pode evitar e tudo que se pode fazer é conviver com elas ou então, você pode não dar importância a essas pequenezas e tocar o barco.
Confesso que o que mais doeu nesse processo todo de metamorfose ambulante – Raul me entenderia – foi a minha trágica, não menos necessária, perda de toda a pasta de Meus Documentos do meu falecido notebook. Fiquei uma semana cantando meu computador apagou minha memória, meus textos da madrugada, tudo que eu já salvei e o tanto que eu vou salvar das conversas sem pressa das mais bonitas mentiras... Porque foi como se uns 5 anos da minha vida fossem, literalmente, apagados. Estou preferindo pensar que isso foi um sinal para eu realmente deixar pra lá, que já estava na hora mesmo, porque esse foi o jeito que o destino achou de mandar pra fogueira todos meus registros de coisas que não existem mais. E todos deveriam achar um jeito de mandar pra fogueira o que não serve mais também, é algo mais como se livrar do que propriamente perder.


Então a gente cresce. Eu já falei isso lá em cima, mas vale ressaltar. A gente vira gente grande e continua se sentindo pequeno. Percebe-se que nossas dificuldades e problemas são proporcionais ao nosso tamanho e eu diria que isso daria até uma equação, mas eu não sou nenhum Colin da vida, então me contento com verdades não lógicas. A gente cresce e continua com saudade. Saudade do cheiro do almoço todo dia depois da escola, saudade de alguns amigos do colegial – a que eu posso contar nos dedos de uma mão – saudade de pisar na grama molhada do quintal de casa, do latido dos cães de manhã cedo, das visitas de fim de tarde dos avós, do suco de maracujá no café da manhã, quando este não foi substituído pelo ruim porém necessário café. Saudade da feirinha de quinta-feira na praça a uma esquina de distância, de ficar à toa com as pessoas certas, de não precisar de telefone pra falar com a família. Parece que tudo é mais bonito quando não se pertence mais a essa realidade. É, estou começando a gostar desse negócio de sentir saudade.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Tão rico será o capitalismo quando "olhar as estrelas" fizer parte do currículo

Fiquei pasma quando fui pra fora do universo que me separava da realidade dos seres humanos. Viver no interior do interior do fim do mundo sempre me deu uma percepção limitada do que estava abaixo do meu nariz. Incrível como mesmo com tanta informação, com tanta experiência contada por nossos avós, existem coisas que a gente não se dá conta até chegar o momento certo. E do que estou falando mesmo? Das pessoas, é claro. Gente, de todo tipo, elas me assombram. Se você já estudou biologia e já viu aquele papo todo de especiação, isolamento geográfico e afins, sabe do que estou falando. Quando a saímos da nossa zona de conforto, onde já se tem conhecimento das pessoas a sua volta e sabe que ali quase nada é passível de simples alterações, é aterrorizante perceber que há muito mais. É complicado se integrar nas mudanças e se jogar de cabeça no desconhecido. E este texto será mais um cheio de perguntas sem respostas.
Outro dia percebi que não acordei de mau humor. Foi frustrante pra mim notar isso. Como boa dramaturga da minha própria vida, fiz uma breve reflexão. Estaria eu perdendo minha identidade? Dei bom dia – mesmo que alguns não respondam, danem-se eles, isso não vem ao caso, em outro texto, talvez – pensei naquela manhã no mendigo que vi no caminho pra aula e fiquei sofrendo com aquilo e ainda ofereci um Guaraná Jesus pra minha professora preferida de biologia. Voltei um pouco no tempo e cheguei à conclusão que perder minha identidade talvez seja a melhor coisa que tem me acontecido.
Pensei não só em um pobre coitado pairando ali diante das suas impossibilidades, dos seus prováveis medos. Pensei também na falta de esperança, a que ele tinha ali como uma sombra que o perseguia em todo canto, sem destino, sem rumo e sem bagagem. O contraste que eu senti entre mim e todos que estão em situação tão miserável foi tão grande que não me coube, e o meu modo mais patético de transbordar isso foi fazendo uma redação, porque é a única coisa que estou apta a fazer por enquanto, e nem é tão bem.
Tudo chegou a um ponto que os mesmos que se dizem humanos, perderam a noção do que é humanidade. Ou será que eu que fiquei presa em algum momento da história em que as pessoas cuidavam umas às outras? Ou isso nunca aconteceu e é só mais uma utopia criada na minha mente cheia de façanhas?  


Hoje quando um professor de literatura perguntou casualmente quem sofria quando via alguém pedindo esmola no semáforo e todos (ou pelo menos uma maioria gritante) responderam que não, eu sofri foi com a resposta. O professor, provavelmente em razão de sua profissão que já exige dele ser um personagem fictício das leituras que ele nos passa, demonstrou completa indignação. Gostei dele um pouquinho mais depois disso, mesmo tendo desconfiança que aquilo talvez fosse uma farsa, mas adoro invenção, gosto de tudo que parece minimamente irreal. Sim, sou uma lástima, descontroladamente atraída pelo que não existe, porque a realidade, como eu já disse, me amedronta. O velhinho na rua me deixou estarrecida. Ao mesmo que me deu uma sensação (única?) de que as pessoas não se comovem com nada que vá mais além do seu próprio umbigo. Então, você vira pra mim e pergunta, mas cadê a novidade nisso? O meu descontentamento é justo esse, oras. Onde está o espírito solidário, o desejo de fazer o bem e o mais importante: a coragem para desenvolver alguma mudança?


Dá até um desgosto viver num mundo assim tão desequilibrado. Dá também a impressão que você não pertence a esse planeta porque tudo o que você faz é se importar. Mas quem nunca se sentiu um ser mutante em meio a tanta gente estranha? Acontece que se você não remar o barco, corre o risco de ser engolido pela onda. E eu não tenho tentado nadar contra a maré. Estou tentando melhorar minha imutabilidade (leia-se: deixar de ser cabeça dura) e como diria meu amigo Charlie, “participar”. Conhecer pessoas diferentes, apesar da essência totalmente leviana, é revigorador. Se pode tirar algo do comum, não dá pra ser um extraterrestre bitolado unicamente em sua própria concepção de vida pra sempre ou como eu mesma tenho ouvido ultimamente “ser trancada nesse mundinho de sonhos”. De jeito nenhum estou abrindo mão do meu mundinho de sonhos, ele é meu e ninguém me tira. Mas de fato, amadurecer a ideia de que há um presente e que ele está acontecendo agora, não faz mal a ninguém. Meu avô disse que precisamos ser camaleões que sempre se adaptam ao ambiente. Pois bem, sou um camaleão.
Tudo bem que ainda sou – um pouquinho – estranha, mas quem não é? Todos têm suas particularidades, todo mundo é meio pirado em algum aspecto ou em vários deles. E nesse tipo de assunto sou extremamente observadora. Adoro fazer watching people em todo canto que vou. Constato que as pessoas são sim especiais, independentemente da superficialidade que algumas delas carregam. Eu mesma já fui o maior peso pesado que poderia ter suportado. Hoje não ligo as pessoas me olharem torto por adorar astrologia, mitologia grega e poesia, ou quando falo que sou fã das estrelas e paro sim para admirá-las, ou quando as vezes saio apressada porque me dá um insight e eu preciso correr desesperada atrás de um papel e um caneta ou quando falo coisas esquisitas que ninguém compreende. Não tenho culpa se as pessoas não entendem mais a língua dos sonhadores.


E se te acharem esquisito, te chamarem de louco e o mundo te virar as costas, lembre-se que existem vários outros paralelos para se inventar. 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Eu também não usei palavras ofensivas

Mas depois que corrigiram minha redação eu bem que quis. E ferir os direitos de alguns humanos também.

Pra não ficar muito cansativo, agora vou ensinar a vocês como deixar uma massa de estudantes indignados e com o sentimento de que todos que realmente se dedicaram a fazer uma boa redação foi injustiçado. Assim pensaram alguns corretores da mais recente prova do Exame Nacional de Ensino Médio. Infelizmente vivemos em um país em que a educação não é levada a sério e do jeito que vai, bom, o que me resta a dizer é que: não vai.
Era um dia comum quando meu professor de história colocou na lousa a notícia tirada no site do G1, o irônico é que ele expôs lá, não comentou nada, enquanto minha sala de uns cem alunos observava, em silêncio absoluto contendo seu estado de cólera. Passado um tempo, o professor retirou o slide e retomou a aula. Voltamos ao nosso dia-dia com o esforço de típicos estudantes que estão ali para aprender como tirar uma boa nota no vestibular e fazer isso do jeito certo, ou do jeito que era para ser o certo. Não, a nossa aula não foi sobre como preparar um miojo.
O que não cabe, o que não tem lógica é esse descaso com a educação brasileira. É uma falta de respeito que as autoridades têm conosco, parcela no mínimo fundamental da sociedade, os estudantes. Não só com a gente, mas com nossa mãe, nosso pai, nossos avós, madrinha, tios e todo mundo que está torcendo por nós. Eles, se me permitem dizer, sacaneiam com esse povo todo. É um ser humano ali dependendo de uma simples e, no entanto, decisiva correção. E eles? Eles passam os olhos e se não feriu os direitos humanos já está de bom tamanho. É uma vida na mão de “profissionais” incompetentes, que não tem consciência da repercussão de sua ignorância.
A questão, porém, não é fazer uma auto avaliação que afirme que o desempenho de alguém que tirou 1000 é pior que o meu. Mas de uma coisa eu tenho certeza: muita gente que não escreve mais coisas como “trousse” desde o primário se deu mal. Erros como esses passaram simplesmente despercebidos. Sorteio de nota? Poderia até ser, mas é bem mais provável que seja imperícia da parte dos responsáveis pela correção. Ou quem sabe inexperiência? Recém formados em letras contratados para tal tarefa e que simplesmente julgam as redações como bem entenderem sem cumprir as normas de correção que o exame mesmo cobra.
Tudo isso, é claro, não justifica e nem diminui a revolta, por parte nossa, vestibulandos que passam um ano inteiro aprendendo a norma padrão da língua e como fazer, de fato, uma dissertação argumentativa. Está certo o aluno sair da prova do ENEM dizendo “tomara que eu tenha sorte dessa vez”? Sorte é pra quem não estudou, já dizia vovó. Estamos tendo um sistema de educação baseado na “sorte”? Como que isso pode ser levado a sério? Como os erros do nosso país podem ser corrigidos de uma forma tão banal? Não são só de “mestres" da culinária que é feito um país, nem de viciados em futebol – que inclusive deixam isso claro no seu texto – e nem de alunos somente rasoaveis. Está na hora de abrirmos os olhos para a realidade do nosso Brasil, onde a lei do mais fraco que parece se perpetuar, sem que este tenha feito qualquer esforço, nem mesmo para uma nota 1000.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Direto do exílio


Nem consigo lembrar o meu estado de espírito da última vez que escrevi alguma coisa. Uma das minhas metas de ano novo é não deixar isso acontecer novamente. Claro, eu posso estar bastante envolvida na minha nova vida tentando participar e convivendo com o peso da responsabilidade que é saber exatamente o que quer da vida e mesmo assim não ter ideia do que fazer com isso. E como os pensamentos “de travesseiro” voltaram a me importunar a noite e eu mal posso dormir sendo abastecida de ideias e ideias que só surgem naquele momento precioso de sono, não pude ignorar esse impulso de voltar a escrever.
Deixei minha mãe chorando a me abençoar, e foi de verdade, não foi só porque passei a vida toda sendo obrigada a escutar as músicas (terríveis, vale acrescentar) do meu pai. A pobrezinha está lá, segundo ela, tentando superar a síndrome do ninho vazio. Mal sabem eles que eu ainda estou tentando aprender a voar.
Chegando aos meus tão esperados 18 anos, me dei conta de que não era bem o que eu imaginava (pasmem!). Não estou aqui com o propósito de fazer resoluções de início de ano, porque nessa minha grandiosa experiência de vida, sei que isso não dá certo. Tudo que eu quero é seguir um foco, sem me bitolar em mesmice ou apelar para extravagâncias. Que assim seja, nossa-Senhora-dos-vestibulandos-precisados-de-vossa-ajuda, Amém!
Como a gente não pode ter tudo que quer, do jeito que sempre sonhou, cá estou eu numa cidade desconhecida, onde ainda não decidi se, por tudo ser novidade, isso de alguma forma é legal. Não devo ter caído na real e, apesar de mais de um mês tentando sobreviver, da porta do meu quarto pra lá, tudo é selva. Sim, agora tenho um quarto só pra mim, mas não é algo que eu possa denominar “um canto pra chamar de meu”. Admito que gostava mais do meu palácio, onde eu era rainha e meus irmãos eram os subordinados. Agora tenho que sair da cama se quiser beber água.
A pergunta que não quer calar é: o que diabos mesmo eu vim fazer no coração do Brasil, na capital do Goiás, este curioso lugar onde as pessoas parecem não saber ouvir nada além de sertanejo e comer pequi? Bem óbvio, minha mãe responderia que eu vim estudar. E é isso mesmo, certo mãe? Estudar. Vestibular. Medicina. Vestibular. Se meus ouvidos tivessem trending topics era isso que ia sair. Bem entediante, mas não tire conclusões precipitadas e não deixe que isso te impeça de gostar de mim, sou legal, juro.
Enfim. Eu tinha um plano. E este com certeza não era me tacar pro interior do país. Criei uma antipatia genuína pela minha cidade natal enquanto morava lá. A desorganização, as pessoas, o calor infernal, só não era tudo, porque aí eu teria que incluir minha família e as pessoas que me marcaram de um jeito especial durante esse período. Eu quis partir, sem dúvidas, ir pra bem longe, um lugar ensolarado, onde eu pudesse ver o pôr do sol na praia de vez em quando e encontrar comigo mesma em cada esquina desse novo destino. Aconteceu tudo ao contrário, como já era de se esperar. Mas é como dizem, nunca se sabe quando o avesso pode ser o lado certo.
Aqui tem sim, dias ensolarados. Não tem brisa, o que pode se tornar enfadonho, abafado às vezes. Eu, como nordestina inerente que sou, basta a temperatura baixar pra 25ºC (e acreditem, já peguei menores) que já estou com meu melhor agasalho (ainda limitados no meu guarda-roupa) embaixo de umas duas cobertas me protegendo desse desconhecido agressivo, o frio.
E diferente do que poderia ter sido, eu não me encontrei aqui, não posso pegar um longo fôlego e suspirar “estou exatamente onde deveria estar”, na verdade estou bem perdida (pausa pra tentar lembrar uma expressão que meu professor de história falou sobre estar mais perdido que...?).  Eu estou tentando “participar”, ao mesmo que tento a cada dia não parecer um poeta no exílio cantando aos sete ventos sua canção saudosista.
Dentre tantas outras coisas que valem ser ressaltadas, sobre essas experiências inovadoras como morar longe de casa – que é bem mais que mexer em caixa eletrônico pela primeira vez ou fazer compras de supermercado ou fazer tudo que você não faria se sua mãe não mandasse – tenho em mim que esse ano reserva algo mais grandioso, não aposto fichas, assim como não apostei pra 2012, que por sinal foi um ano que ainda não sei definir como bom ou ruim. Sei que é hora de recomeçar, de procurar sempre ser alguém melhor. Se a mudança quer que eu aconteça, não há porque eu não retribuir esse favor.

Atrasado, mas de coração: feliz 2013!

domingo, 21 de outubro de 2012

Songbird



And all at once 
It gets hard to take 
It gets hard to fake what i won't be 
'cause one of these days 
I'll be born and raised 
and it's such a waste to grow up lonely

[Play: Born and Raised - John Mayer]




Imagino a sensação de sentar numa varanda, fim de tarde, sol indo embora com os últimos vestígios de chuva. Imagino juntar algumas notas de violão e tocar, vento, brisa, sombra de árvore soprando uma melodia, mas eu não sei tocar violão. Então eu fiz tudo isso, reuni alguns sopros a minha própria intuição, acho que consegui tocar um versinho de gaita. Imagino como seria se eu soubesse tocar violão. De fato eu montaria uma cena mais cinematográfica, mas a perfeição nunca esteve no meu currículo. Se eu traçasse uma nota musical, se eu inventasse um verso, seria com base num sopro de gaita, borraria um papel com trechos de um blues antigos e ficaria satisfeita.
Quanto tempo eu já não perdi me chateando com minha incapacidade de atuar minha versão mais simples, menos peso no ar, mais voo de passarinho querendo se libertar. Quanto do que eu já deixei passar lutando... Espera, hoje não quero usar palavras muito duras como “lutando”. Então, nessa breve pausa, esqueci-me de onde quero chegar, ser pássaro em busca de libertação nunca foi fácil. Talvez eu seja um canário, um beija-flor ou um daqueles mais escuros... Palavra dura novamente, escuro também não era onde eu queria chegar.
Retomando, talvez eu não seja um completo desperdício de tempo, talvez eu esteja buscando um caminho não tão claro em prol da minha causa, acho que era isso que eu queria dizer com “lutando”, era pela minha causa. Perdida, desesperançada, eu queria enxergar menos gaiola, menos prisão e sentir bons ventos em minha direção. Nunca fui boa com versos, mas acho que essa prosa está quase virando poema com tanta rima. É o medo despertando o melhor e o pior de mim, o medo de cortarem minhas asas, vivem cortando, podando galhos de árvore com meu ninho, ludibriando meu canto.
Ainda estou tentando descobrir os motivos por trás da minha aflição, mas hoje prometi não me complicar. É desafiador, até pra mim, não ser amarga, de novo e de novo escrevendo durezas e inexatidões, fazendo nó, curvas, quando tudo o que quero é seguir reto, numa direção exata. Moço me devolve a gaita, eu gosto de música que tem gaita no finalzinho, eu quero aprender o que eu gosto. Quando eu tiver um canto pra chamar de meu, um que não seja essa jaula de divagações complexas – a vida tem que ter um sentido, uma causa que não seja esse muro de complicações – criarei um peixe, quem sabe dois e darei nomes que não me leve de volta para os pensamentos de dentro da prisão, a gente tem essa mania de dar nome as coisas que nos fazem lembrar. Então eu regarei um jardim, dispensarei as flores cheias de espinhos.
Estou pensando em me mudar, abrir mão, promover o desapego, já diriam antigos amigos que tive. Tem uma vastidão pra voar, mas eu continuo me sentindo mais presa que nunca. Estou tentando chegar num ponto fatal aqui. Fatal é palavra dura, talvez eu coloque o “L” no meio da palavra e fique “falta”. Moço me dá a gaita, estou tentando chegar ao ponto que falta aqui.