sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Fantasias, devolvam minha vida


Entre essas paredes, sei que em cada cômodo desse apartamento já cansou de presenciar discursos mal narrados de uma apostadora sem fé, de alguém que por estupidez ou medo, deixa passar as milhares de possibilidades de felicidade que existem e se deixa enganar por um segundo de atenção. Quase dezessete anos e ainda não sei pra que rumo levar minha vida. Era fácil quando não era real, era simples quando não estava acontecendo. Tantos planos em pendente, tantos sonhos guardados e eu só aqui de cara pra essa porta que o mundo fechou na minha cara. É preciso recomeçar de algum lugar, é preciso de um ponto de partida, é preciso olhar mais a frente pra enxergar tudo que me espera.
Tem muita coisa que eu não aprendi e que, cá entre nós, têm coisas que nem eu faço mais questão de saber. Remexer em papeis passados, em fotos de fundo de gaveta me leva sempre ao mesmo lugar: um sofá velho com uma garrafa de wisky que alguém deixou aí e esqueceu de levar. Depois, quem sabe, uma volta noturna nas ruas lamacentas com gente sentada nas calçadas chorando por expectativas quebradas de um amor que não se cumpriu e fotografar na mente um chão transbordado de luxúria e cigarro. Comecei a gostar desses ambientes difamados. Achei uma solução não tão boa, diriam, mas eficiente. Não, meu senhor, não virei garota do mundo, tampouco uma revoltada sem causa. Extasiei, acho. Se não pela ausência, foi pelo excesso de dureza que sempre me faltou.
Quando sinto que a fome de certos gostos antigos passa, volto aos trilhos. Volto a sorrir e tratar os outros com uma mansidão incomum, um pouco energética demais, talvez, mas funciona na maioria das vezes, pelo menos aquela necessidade de manter longe o que mata minha solidão se foi. Se tem algo que eu quero manter distância agora é daquela pessoa que estava me acabando aos poucos, aquela velha intrusa que se apossou das minhas tristezas, dos meus amigos, dos meus amores, de mim. Aquela que me fez perder a cabeça por males desnecessários, que me fez apagar as luzes do mundo por um único brilho falso. Se existisse a possibilidade de escolha: continuar vivendo dentro de uma mentira ou deixar pra trás e ser feliz pra sempre?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dark days are over?

Tenho plena consciência das inquietudes da minha mente, do meu medo incorrigível do escuro e do descaso que trato minhas emoções, como se fossem descartáveis ou pudessem se renovar a cada novo incidente, como se cada vez que o humor dos outros sofressem uma alteração eu fosse obrigada a estar de acordo e aceitar de cabeça baixa. E eu aceito.
Perguntam onde está minha convicção, pra onde foi parar a porra do amor próprio e em que rumo se meteu a pessoa de pés no chão que conheciam. No lixo. Tudo o que eu fiz e fui, foi parar no lixo, é assim que ando me sentindo. Não importa o quanto eu tenha lutado contra esse alguém que não suporto e ao mesmo tempo não consigo me livrar, porque esse alguém aqui dentro de mim sempre retorna. Nada que eu faça, porque eu já tentei outros ambientes, outras músicas, outras tribos, outros para amar, mas algumas pessoas não sabem a hora certa de sair da nossa vida.
Fica martelando. Está estampado e escachado a forma como o sentimento vai, mas não volta. E fica no ar a questão de que estamos vivendo, mas a troco de quê? Eu queria tanto que pelo menos uma vez eu fosse a parte da história que amasse menos, que conseguisse se desligar por alguns momentos na intenção – ou na falta dela – de fazer alguém notar a existência do meu lado mais blasé. Queria parar de me recriar na expectativa de agradar a quem eu sei que apenas finge se dar conta ou que realmente já esqueceu.
Têm dias, desses que o telefone não toca e nem a campainha chama, esses dias frios vêm e vão com uma grande interrogação que muitas vezes não explica o motivo de eu ainda não ter enlouquecido por ser sozinha. Desejo o tempo todo poder depositar meu afeto e confiança naqueles que me dão reais razões para fazê-lo. E mais que isso, levar a sério a filosofia do desapego e pregar isso não só por ser uma farsa elegante que sustenta meu orgulho. Está mais do que na hora de colocar três palavrinhas mágicas no meu vocabulário sem graça “let it go” e unir, antes de mais nada, à outras duas que necessitam mesmo de superação: dark days. E de uma vez por todas colocar um fim pra deixar que só as lembranças boas ficassem. Como se só as más lembranças doessem. Mas assim como algumas canções, versos entalhados e semanas intermináveis, existem pessoas que já deram o que tinha que dar.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Palavras duras da noite

Esse não era bem o jeito que eu esperava começar meu ano. Ainda tenho comigo o pensamento de que lembrar você, escrever sobre você nunca me deu muita sorte, nunca me fez bem algum, especialmente agora, que querendo ou não, uma mudança no calendário renova a possibilidade de se ter mais, de querer mais e ter esperança no melhor. Eu tenho esperança, mas surge essa dúvida acabando com todas minhas chances de ter paz. Então questiono a você agora: defina o que é melhor pra mim. Sem sua presença, meus dias parecem fatiados. Um pedaço serve, outro nem tanto, outro deixa a desejar, alguns se destacam em meio a sorrisos improvisados e histórias amenas, que ganham um significado indiferente com um sabor de interesse forçado. Além do mais, eu nem sei mais o que dizer, você já tem todas as repostas, sabe o que estar por trás desses meus gestos cansados que já perderam o antigo exagero, já amorteceram a fúria constante e nem mesmo encontram palavras pra definir esse embaraço de frustrações revoltas e a vontade de querer seus braços ao meu redor de novo. Eu já entendo que nós dois talvez tenhamos aceitado que viramos vapor depois do incêndio. Só restou aquela fumaça meio embaçada, meio sem resposta, meio. Estarei logo indo embora, pensando mais uma vez que essa foi a última. A última vez que me odiarei por sua conta. Que insistir está sendo a pior das minha dores de cabeça, da minha insônia nauseante e desse pesadelo interminável. Embora a dor não lateje mais e que a falta sua não me impeça de seguir em frente, eu embarco nessas viagens ilusórias e é inevitável que eu sofra como se a ferida ainda estivesse lá, pulsando e flamejando na minha mente, envenenando os meus dias e pondo a perder tudo que eu construo na esperança de que eu ainda volte a ser eu mesma. Aquela que eu conseguia aturar, aquela que não buscava motivos para fraquejar, aquela que você costumava amar. Acho que se você soubesse, riria tanto da minha cara. Se soubesse desse meu apego ridículo por aquilo que nem se digna a prestar atenção nas minhas tentativas desesperadas de ser aceita ao indeciso. Das ameaças que eu mesma me faço no intuito de evitar confundir e plantar expectativas falsas ao iludido. Das encruzilhadas que vivo sonhando em me meter esperando a chance de topar com algo bom que vá contra as regras do resto do mundo. E nesse jogo o indeciso é você, o iludido sou eu e os encruzilhados somos nós.

"Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo."

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Flores no asfalto

"Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem."


Se eu pudesse traduzir o momento de agora este seria um grande contraponto. Há muito tempo ando perdida nas minhas palavras, em minhas emoções, confusa em meio aos altos e baixos que a vida oferece. As horas correm, o coração dança no tic tac nervoso dessa melodia tanto encantadora quanto cruel chamada vida. Custo a acreditar que enquanto eu estou aqui no ápice, olhando de cima os horizontes que os últimos dias me permitiram enxergar, lá fora o mundo está acontecendo. Não que eu esteja fora da realidade, não é de sonho nem de loucura que estou falando, pelo contrário, estou plena e conscientemente lúcida, só que um pouco mais confiante, um pouco mais ilimitada, um pouco mais leve.
Não estou procurando nem esperando nada de ninguém, mas nem por isso deixei de ter esperança. Não é porque dei um salto à frente de tudo àquilo que me fez mal, que agora posso enfrentar tudo de pescoço erguido. Por favor, tenho direito de ser humana, tenho minhas fraquezas e sou insegura na maioria das vezes. A verdade é que eu só queria experimentar um pouco mais desse sabor de felicidade. De dias inteiros deitada numa rede, de correr na praia, de passar momentos bons e memoráveis ao lado das pessoas prezo. Queria desfrutar o quanto mais pudesse dessa doçura, que feito um milagre, refletiu e deu brilho nos meus dias, até então corriqueiros e enclausurados. Desse jeito bem clássico mesmo, porque eu pedi mudanças, mas a minha essência, a minha paz, eu não quero que se defira, desejo que dure enquanto for possível.
Depois de um tempo certas coisas começam a ficar bastante claras. A gente começa a notar que ainda pode se machucar, que a tempestade pode sim vir depois da bonança, começa a ter medo e isso não tem remédio que salve. A cura não é a simples menção de palavras que se gostaria de ouvir da pessoa certa, não é um plano que se vem pensado há tempos se concretize. Mudanças requerem força. Eu quis acreditar em mim, mas não se pode seguir traçando linhas perfeitas pra sempre. Vai haver um passo em falso, uma troca de amizade injusta, um ato de se fechar para o amor que não vai dar em nada. No fim das contas eu percebo de novo e de novo que a cura vem de dentro. De mim e somente de mim é que eu vou encontrar os motivos e descobrir minhas próprias carências.
Então por enquanto vou continuar dando tiro no escuro, tentando viver até a última gota, colocando a mão no fogo por quem não merece. A gente aprende, mas nada supera o gostinho de querer voltar a ser o que era antes. Sou frágil e me rendo à vontade de incorporar o meu ser, fazer o que der na telha e quebrar as regras que eu mesma estabeleci por medo de encarar a pessoa que me olha no espelho todos os dias.