Ela é sua colega de classe, e dependendo pra onde você olha, ela é em parte uma total desconhecida, personagem principal da mais incrível história do seu verão passado. Ela é amante disfarçada de amiga e pode ser o contrário também. Um medo comum em que se tem ao conhecer essa pequena criatura imprevisível e ao mesmo tempo encantadoramente perdida é de que ela saia caminhando entre as pessoas a cada piscar de olhos, a cada mera distração. Ela some. Por que ela insiste em omitir sua vontade? Por que não se cansa de dançar no ritmo da música se nem ela gosta daquele som enjoativo que amolece os sentidos? Espera por uma canção diferente, será?
Atrás de um sentimentalismo incondicional, estava ali alguém que era fácil esquecer, até que fosse embora de vez. Ela não era forte, pelo contrário, era fraca demais e se satisfazia com o pouco que lhe era dado. Sua coragem de virar as costas pro mundo sumia toda vez que uma pessoa pegava em seu ombro e dizia pra ficar. Fique mais um pouco. Ela por um instante esquecia do seu desgaste interior e ficava e alimentava aquele monstro que tinha fome da sua presença, que quando se via longe, mordia com força lá dentro pedindo por mais doses de você, aquele pedaço de carne que ela não podia roubar.
Falou certa vez para esse alguém que era de uma segunda pessoa, que ali ela repousava uma paixão imensa. Ela disse “eu quero você perto de mim, sempre”. Estava na cara que nunca havia pronunciado aquelas palavras antes. Ela afastou um pouco aquela imagem para não se ver diante da vergonha. Não olhou nos olhos. Ela não olhava nos olhos, um tipo de timidez alternativa, que se olhasse, isso a denunciava e ela prezava sua lucidez. E perdia, a timidez e a lucidez, bastava pisar em solo desconhecido.
Nessa de brincar de dizer a verdade, se fez ali uma barreira que causou exaustão por criar laços ilusórios com as pessoas e direta ou indiretamente receber nada em troca. Ela entendia que o mundo às vezes não cabia as possibilidades em que ansiava, mas sufocava, fragilizava, essas coisas, essa impossibilidades da vida. De tanto colecionar experiências, acumulou uma carência gigantesca de base, de conforto, de alianças simples que não façam o mundo cair sob sua cabeça. Ela não guarda, nem aprende nunca. Acumula. E nunca conta pra ninguém. Sente e é tomada de pudor dentro da própria realidade, não esquece fácil e esse é seu maior pecado.
Would you leave me if I told you what I've done?
And would you leave me if I told you what I've become?
'Cause it's so easy to say it to a crowd
But it's so hard, my love, to say it to you out loud
And would you leave me if I told you what I've become?
'Cause it's so easy to say it to a crowd
But it's so hard, my love, to say it to you out loud

