As vozes na minha cabeça pediam para que eu parasse. Estúpida, alienada, masoquista. Eu não queria deixar minha mão escorregar da sua, meus dedos percorriam cada canto seu como quem maneja uma obra prima e os cheiros me submetiam a uma estranha calmaria, dessas que o coração palpita até a batida chegar surda aos ouvidos, mas que me faz sentir uma momentânea paz. Você sorri tímido da minha falta de jeito e eu estou no céu novamente.
É pretensioso da minha parte me envolver em um sonho tão abastardo. Aquilo que me tira dos eixos, que me faz caminhar em areia movediça e ainda sorrir quando está afundando. Eu não pude dormir hoje sem antes dizer aquelas palavras, peço que desculpe as minhas atitudes impensadas. Não gosto de me sentir emocional, é como se uma boa parte de mim fosse levada pelo vento e não restasse segurança alguma firmando meus pés no chão, ali, vulnerável, pronta para ser sua, gato e sapato, esquecida da real faixa em que seus pensamentos flutuam. Com quem eu estou brincando? A realidade me dói como um tapa e o meu silêncio nunca perdurou tanto. Já não posso mais competir com seu amor. Um jogo de laços findados, uma dança incoerente com troca de pares e passos improvisados que nunca parecem se encontrar, eu não quero participar mais. Só quem sai perdendo sou eu, sempre. Você é uma esperança que nasce por um único feixe de brilho falso e depois vira, todo holofote, na direção contrária e eu fico aqui na única e exclusiva intenção de assistir seu show.
Você diz que o meu problema é achar que nada nunca é suficiente, só que a verdade machuca. O meu problema está na imprecisão com que você me trata e do pouco caso. Às vezes penso se você não sabe ou é porque não faz mesmo questão. Vê? A manhã está cinzenta, faz frio lá fora e aqui dentro também. Eu queria poder dizer em palavras claras, feias, porém sem resquícios de dúvidas. Não está cabendo mais ter que me esconder atrás da sua felicidade e fingir que estou participando dela. Deixei tudo isso ir longe demais. Sei que você me entende, não me leve a mal, eu também não quero você. Parece rejeição e quem dera fosse simples assim. Cada vez que fecho o olho a sua imagem é a minha maior defesa bem como uma retaguarda. É como se me tocasse a suavidade dos gestos e das suas feições tentando contar alguma piada sem graça que me fará rir de qualquer maneira e beijos que de tantas idas e vindas eu já enquadrei no espaço menos vívido da minha memória. Nós somos um exemplo perfeito de romance não realizado antes mesmo de acontecer. Nós adormecemos na vontade um do outro, em que impera a negação, o justo fato de aquilo tudo ser uma ilusão.
A sua atenção é que nunca é suficiente pra mim. Eu não suporto estar tão perto e distante ao mesmo tempo e ter que conviver com os vieses da sua vida. A sua paixão invencível por quem realmente merece, o jeito como você escolhe tão bem a quem depositar confiança. Queria que você fosse mais errado, queria eu ser ter um pouco mais de razão nessa história, mas ambos sabemos que eu sou a única a não faz sentido algum. Não me agrada ser um segundo plano indispensável. Não me jogue contra a parede das suas inseguranças, não me use como instrumento de apoio para suas quedas. Não acalenta as palavras soadas ao pé do ouvido cheias de significadas e meros conteúdos vazios de autenticidade. Não está escrito em lugar algum como é difícil estar amarrado a uma impossibilidade.
domingo, 24 de junho de 2012
Não olhe agora
(...) estou olhando pra você.
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terça-feira, 12 de junho de 2012
Reticências
Concluí que gostava mais da vida daquele jeito. Decepcionando mais do que era decepcionada, esperando menos do que era esperada, amando menos do que era amada. Só que nem sempre era assim. Uma ou duas conversas jogadas fora, olhar fixo no vão de entrada, ninguém nunca chegava. Só chegava ao ponto de saber que nada seria suficiente para suprimir aquele desejo de ser mais.
- Uma boa dose de realidade.
Disseram.
Ficou como uma dessas coisas que não foram, mas permaneceram assim como se tivessem sido. Entornava meu roteiro de encenações como uma canção que não cansa de repetir seu refrão. Sonhando mais do que podia, tentando achar sentido nas coisas mais do que era preciso, amando mais do que admitia. Você não se cansa de ser tão ensaiada, menina?
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