Nem consigo lembrar o meu estado de espírito da última vez
que escrevi alguma coisa. Uma das minhas metas de ano novo é não deixar isso
acontecer novamente. Claro, eu posso estar bastante envolvida na minha nova
vida tentando participar e convivendo com o peso da responsabilidade que é saber exatamente o que quer da
vida e mesmo assim não ter ideia do que fazer com isso. E como os pensamentos
“de travesseiro” voltaram a me importunar a noite e eu mal posso dormir sendo
abastecida de ideias e ideias que só surgem naquele momento precioso de sono,
não pude ignorar esse impulso de voltar a escrever.
Deixei minha mãe
chorando a me abençoar, e foi de verdade, não foi só porque passei a vida toda
sendo obrigada a escutar as músicas (terríveis, vale acrescentar) do meu pai. A
pobrezinha está lá, segundo ela, tentando superar a síndrome do ninho vazio.
Mal sabem eles que eu ainda estou tentando aprender a voar.
Chegando aos meus tão esperados 18 anos, me dei conta de que
não era bem o que eu imaginava (pasmem!). Não estou aqui com o propósito de
fazer resoluções de início de ano, porque nessa minha grandiosa experiência de
vida, sei que isso não dá certo. Tudo que eu quero é seguir um foco, sem me
bitolar em mesmice ou apelar para extravagâncias. Que assim seja,
nossa-Senhora-dos-vestibulandos-precisados-de-vossa-ajuda, Amém!
Como a gente não pode ter tudo que quer, do jeito que sempre
sonhou, cá estou eu numa cidade desconhecida, onde ainda não decidi se, por
tudo ser novidade, isso de alguma forma é legal. Não devo ter caído na real e,
apesar de mais de um mês tentando sobreviver, da porta do meu quarto pra lá, tudo
é selva. Sim, agora tenho um quarto só pra mim, mas não é algo que eu possa
denominar “um canto pra chamar de meu”. Admito que gostava mais do meu palácio,
onde eu era rainha e meus irmãos eram os subordinados. Agora tenho que sair da
cama se quiser beber água.
A pergunta que não quer calar é: o que diabos mesmo eu vim
fazer no coração do Brasil, na capital do Goiás, este curioso lugar onde as
pessoas parecem não saber ouvir nada além de sertanejo e comer pequi? Bem
óbvio, minha mãe responderia que eu vim estudar. E é isso mesmo, certo mãe?
Estudar. Vestibular. Medicina. Vestibular. Se meus ouvidos tivessem trending
topics era isso que ia sair. Bem entediante, mas não tire conclusões
precipitadas e não deixe que isso te impeça de gostar de mim, sou legal, juro.
Enfim. Eu tinha um plano. E este com certeza não era me
tacar pro interior do país. Criei uma antipatia genuína pela minha cidade natal
enquanto morava lá. A desorganização, as pessoas, o calor infernal, só não era
tudo, porque aí eu teria que incluir minha família e as pessoas que me marcaram
de um jeito especial durante esse período. Eu quis partir, sem dúvidas, ir pra
bem longe, um lugar ensolarado, onde eu pudesse ver o pôr do sol na praia de
vez em quando e encontrar comigo mesma em cada esquina desse novo destino.
Aconteceu tudo ao contrário, como já era de se esperar. Mas é como dizem, nunca
se sabe quando o avesso pode ser o lado certo.
Aqui tem sim, dias ensolarados. Não tem brisa, o que pode se
tornar enfadonho, abafado às vezes. Eu, como nordestina inerente que sou, basta
a temperatura baixar pra 25ºC (e acreditem, já peguei menores) que já estou com
meu melhor agasalho (ainda limitados no meu guarda-roupa) embaixo de umas duas
cobertas me protegendo desse desconhecido agressivo, o frio.
E diferente do que poderia ter sido, eu não me encontrei aqui,
não posso pegar um longo fôlego e suspirar “estou exatamente onde deveria
estar”, na verdade estou bem perdida (pausa pra tentar lembrar uma expressão
que meu professor de história falou sobre estar mais perdido que...?). Eu estou tentando “participar”, ao mesmo que
tento a cada dia não parecer um poeta no exílio cantando aos sete ventos sua
canção saudosista.
Dentre tantas outras coisas que valem ser ressaltadas, sobre
essas experiências inovadoras como morar longe de casa – que é bem mais que
mexer em caixa eletrônico pela primeira vez ou fazer compras de supermercado ou
fazer tudo que você não faria se sua mãe não mandasse – tenho em mim que esse ano
reserva algo mais grandioso, não aposto fichas, assim como não apostei pra
2012, que por sinal foi um ano que ainda não sei definir como bom ou ruim. Sei
que é hora de recomeçar, de procurar sempre ser alguém melhor. Se a mudança
quer que eu aconteça, não há porque eu não retribuir esse favor.
Atrasado, mas de coração: feliz 2013!
