terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Direto do exílio


Nem consigo lembrar o meu estado de espírito da última vez que escrevi alguma coisa. Uma das minhas metas de ano novo é não deixar isso acontecer novamente. Claro, eu posso estar bastante envolvida na minha nova vida tentando participar e convivendo com o peso da responsabilidade que é saber exatamente o que quer da vida e mesmo assim não ter ideia do que fazer com isso. E como os pensamentos “de travesseiro” voltaram a me importunar a noite e eu mal posso dormir sendo abastecida de ideias e ideias que só surgem naquele momento precioso de sono, não pude ignorar esse impulso de voltar a escrever.
Deixei minha mãe chorando a me abençoar, e foi de verdade, não foi só porque passei a vida toda sendo obrigada a escutar as músicas (terríveis, vale acrescentar) do meu pai. A pobrezinha está lá, segundo ela, tentando superar a síndrome do ninho vazio. Mal sabem eles que eu ainda estou tentando aprender a voar.
Chegando aos meus tão esperados 18 anos, me dei conta de que não era bem o que eu imaginava (pasmem!). Não estou aqui com o propósito de fazer resoluções de início de ano, porque nessa minha grandiosa experiência de vida, sei que isso não dá certo. Tudo que eu quero é seguir um foco, sem me bitolar em mesmice ou apelar para extravagâncias. Que assim seja, nossa-Senhora-dos-vestibulandos-precisados-de-vossa-ajuda, Amém!
Como a gente não pode ter tudo que quer, do jeito que sempre sonhou, cá estou eu numa cidade desconhecida, onde ainda não decidi se, por tudo ser novidade, isso de alguma forma é legal. Não devo ter caído na real e, apesar de mais de um mês tentando sobreviver, da porta do meu quarto pra lá, tudo é selva. Sim, agora tenho um quarto só pra mim, mas não é algo que eu possa denominar “um canto pra chamar de meu”. Admito que gostava mais do meu palácio, onde eu era rainha e meus irmãos eram os subordinados. Agora tenho que sair da cama se quiser beber água.
A pergunta que não quer calar é: o que diabos mesmo eu vim fazer no coração do Brasil, na capital do Goiás, este curioso lugar onde as pessoas parecem não saber ouvir nada além de sertanejo e comer pequi? Bem óbvio, minha mãe responderia que eu vim estudar. E é isso mesmo, certo mãe? Estudar. Vestibular. Medicina. Vestibular. Se meus ouvidos tivessem trending topics era isso que ia sair. Bem entediante, mas não tire conclusões precipitadas e não deixe que isso te impeça de gostar de mim, sou legal, juro.
Enfim. Eu tinha um plano. E este com certeza não era me tacar pro interior do país. Criei uma antipatia genuína pela minha cidade natal enquanto morava lá. A desorganização, as pessoas, o calor infernal, só não era tudo, porque aí eu teria que incluir minha família e as pessoas que me marcaram de um jeito especial durante esse período. Eu quis partir, sem dúvidas, ir pra bem longe, um lugar ensolarado, onde eu pudesse ver o pôr do sol na praia de vez em quando e encontrar comigo mesma em cada esquina desse novo destino. Aconteceu tudo ao contrário, como já era de se esperar. Mas é como dizem, nunca se sabe quando o avesso pode ser o lado certo.
Aqui tem sim, dias ensolarados. Não tem brisa, o que pode se tornar enfadonho, abafado às vezes. Eu, como nordestina inerente que sou, basta a temperatura baixar pra 25ºC (e acreditem, já peguei menores) que já estou com meu melhor agasalho (ainda limitados no meu guarda-roupa) embaixo de umas duas cobertas me protegendo desse desconhecido agressivo, o frio.
E diferente do que poderia ter sido, eu não me encontrei aqui, não posso pegar um longo fôlego e suspirar “estou exatamente onde deveria estar”, na verdade estou bem perdida (pausa pra tentar lembrar uma expressão que meu professor de história falou sobre estar mais perdido que...?).  Eu estou tentando “participar”, ao mesmo que tento a cada dia não parecer um poeta no exílio cantando aos sete ventos sua canção saudosista.
Dentre tantas outras coisas que valem ser ressaltadas, sobre essas experiências inovadoras como morar longe de casa – que é bem mais que mexer em caixa eletrônico pela primeira vez ou fazer compras de supermercado ou fazer tudo que você não faria se sua mãe não mandasse – tenho em mim que esse ano reserva algo mais grandioso, não aposto fichas, assim como não apostei pra 2012, que por sinal foi um ano que ainda não sei definir como bom ou ruim. Sei que é hora de recomeçar, de procurar sempre ser alguém melhor. Se a mudança quer que eu aconteça, não há porque eu não retribuir esse favor.

Atrasado, mas de coração: feliz 2013!