quinta-feira, 28 de março de 2013

Tão rico será o capitalismo quando "olhar as estrelas" fizer parte do currículo

Fiquei pasma quando fui pra fora do universo que me separava da realidade dos seres humanos. Viver no interior do interior do fim do mundo sempre me deu uma percepção limitada do que estava abaixo do meu nariz. Incrível como mesmo com tanta informação, com tanta experiência contada por nossos avós, existem coisas que a gente não se dá conta até chegar o momento certo. E do que estou falando mesmo? Das pessoas, é claro. Gente, de todo tipo, elas me assombram. Se você já estudou biologia e já viu aquele papo todo de especiação, isolamento geográfico e afins, sabe do que estou falando. Quando a saímos da nossa zona de conforto, onde já se tem conhecimento das pessoas a sua volta e sabe que ali quase nada é passível de simples alterações, é aterrorizante perceber que há muito mais. É complicado se integrar nas mudanças e se jogar de cabeça no desconhecido. E este texto será mais um cheio de perguntas sem respostas.
Outro dia percebi que não acordei de mau humor. Foi frustrante pra mim notar isso. Como boa dramaturga da minha própria vida, fiz uma breve reflexão. Estaria eu perdendo minha identidade? Dei bom dia – mesmo que alguns não respondam, danem-se eles, isso não vem ao caso, em outro texto, talvez – pensei naquela manhã no mendigo que vi no caminho pra aula e fiquei sofrendo com aquilo e ainda ofereci um Guaraná Jesus pra minha professora preferida de biologia. Voltei um pouco no tempo e cheguei à conclusão que perder minha identidade talvez seja a melhor coisa que tem me acontecido.
Pensei não só em um pobre coitado pairando ali diante das suas impossibilidades, dos seus prováveis medos. Pensei também na falta de esperança, a que ele tinha ali como uma sombra que o perseguia em todo canto, sem destino, sem rumo e sem bagagem. O contraste que eu senti entre mim e todos que estão em situação tão miserável foi tão grande que não me coube, e o meu modo mais patético de transbordar isso foi fazendo uma redação, porque é a única coisa que estou apta a fazer por enquanto, e nem é tão bem.
Tudo chegou a um ponto que os mesmos que se dizem humanos, perderam a noção do que é humanidade. Ou será que eu que fiquei presa em algum momento da história em que as pessoas cuidavam umas às outras? Ou isso nunca aconteceu e é só mais uma utopia criada na minha mente cheia de façanhas?  


Hoje quando um professor de literatura perguntou casualmente quem sofria quando via alguém pedindo esmola no semáforo e todos (ou pelo menos uma maioria gritante) responderam que não, eu sofri foi com a resposta. O professor, provavelmente em razão de sua profissão que já exige dele ser um personagem fictício das leituras que ele nos passa, demonstrou completa indignação. Gostei dele um pouquinho mais depois disso, mesmo tendo desconfiança que aquilo talvez fosse uma farsa, mas adoro invenção, gosto de tudo que parece minimamente irreal. Sim, sou uma lástima, descontroladamente atraída pelo que não existe, porque a realidade, como eu já disse, me amedronta. O velhinho na rua me deixou estarrecida. Ao mesmo que me deu uma sensação (única?) de que as pessoas não se comovem com nada que vá mais além do seu próprio umbigo. Então, você vira pra mim e pergunta, mas cadê a novidade nisso? O meu descontentamento é justo esse, oras. Onde está o espírito solidário, o desejo de fazer o bem e o mais importante: a coragem para desenvolver alguma mudança?


Dá até um desgosto viver num mundo assim tão desequilibrado. Dá também a impressão que você não pertence a esse planeta porque tudo o que você faz é se importar. Mas quem nunca se sentiu um ser mutante em meio a tanta gente estranha? Acontece que se você não remar o barco, corre o risco de ser engolido pela onda. E eu não tenho tentado nadar contra a maré. Estou tentando melhorar minha imutabilidade (leia-se: deixar de ser cabeça dura) e como diria meu amigo Charlie, “participar”. Conhecer pessoas diferentes, apesar da essência totalmente leviana, é revigorador. Se pode tirar algo do comum, não dá pra ser um extraterrestre bitolado unicamente em sua própria concepção de vida pra sempre ou como eu mesma tenho ouvido ultimamente “ser trancada nesse mundinho de sonhos”. De jeito nenhum estou abrindo mão do meu mundinho de sonhos, ele é meu e ninguém me tira. Mas de fato, amadurecer a ideia de que há um presente e que ele está acontecendo agora, não faz mal a ninguém. Meu avô disse que precisamos ser camaleões que sempre se adaptam ao ambiente. Pois bem, sou um camaleão.
Tudo bem que ainda sou – um pouquinho – estranha, mas quem não é? Todos têm suas particularidades, todo mundo é meio pirado em algum aspecto ou em vários deles. E nesse tipo de assunto sou extremamente observadora. Adoro fazer watching people em todo canto que vou. Constato que as pessoas são sim especiais, independentemente da superficialidade que algumas delas carregam. Eu mesma já fui o maior peso pesado que poderia ter suportado. Hoje não ligo as pessoas me olharem torto por adorar astrologia, mitologia grega e poesia, ou quando falo que sou fã das estrelas e paro sim para admirá-las, ou quando as vezes saio apressada porque me dá um insight e eu preciso correr desesperada atrás de um papel e um caneta ou quando falo coisas esquisitas que ninguém compreende. Não tenho culpa se as pessoas não entendem mais a língua dos sonhadores.


E se te acharem esquisito, te chamarem de louco e o mundo te virar as costas, lembre-se que existem vários outros paralelos para se inventar. 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Eu também não usei palavras ofensivas

Mas depois que corrigiram minha redação eu bem que quis. E ferir os direitos de alguns humanos também.

Pra não ficar muito cansativo, agora vou ensinar a vocês como deixar uma massa de estudantes indignados e com o sentimento de que todos que realmente se dedicaram a fazer uma boa redação foi injustiçado. Assim pensaram alguns corretores da mais recente prova do Exame Nacional de Ensino Médio. Infelizmente vivemos em um país em que a educação não é levada a sério e do jeito que vai, bom, o que me resta a dizer é que: não vai.
Era um dia comum quando meu professor de história colocou na lousa a notícia tirada no site do G1, o irônico é que ele expôs lá, não comentou nada, enquanto minha sala de uns cem alunos observava, em silêncio absoluto contendo seu estado de cólera. Passado um tempo, o professor retirou o slide e retomou a aula. Voltamos ao nosso dia-dia com o esforço de típicos estudantes que estão ali para aprender como tirar uma boa nota no vestibular e fazer isso do jeito certo, ou do jeito que era para ser o certo. Não, a nossa aula não foi sobre como preparar um miojo.
O que não cabe, o que não tem lógica é esse descaso com a educação brasileira. É uma falta de respeito que as autoridades têm conosco, parcela no mínimo fundamental da sociedade, os estudantes. Não só com a gente, mas com nossa mãe, nosso pai, nossos avós, madrinha, tios e todo mundo que está torcendo por nós. Eles, se me permitem dizer, sacaneiam com esse povo todo. É um ser humano ali dependendo de uma simples e, no entanto, decisiva correção. E eles? Eles passam os olhos e se não feriu os direitos humanos já está de bom tamanho. É uma vida na mão de “profissionais” incompetentes, que não tem consciência da repercussão de sua ignorância.
A questão, porém, não é fazer uma auto avaliação que afirme que o desempenho de alguém que tirou 1000 é pior que o meu. Mas de uma coisa eu tenho certeza: muita gente que não escreve mais coisas como “trousse” desde o primário se deu mal. Erros como esses passaram simplesmente despercebidos. Sorteio de nota? Poderia até ser, mas é bem mais provável que seja imperícia da parte dos responsáveis pela correção. Ou quem sabe inexperiência? Recém formados em letras contratados para tal tarefa e que simplesmente julgam as redações como bem entenderem sem cumprir as normas de correção que o exame mesmo cobra.
Tudo isso, é claro, não justifica e nem diminui a revolta, por parte nossa, vestibulandos que passam um ano inteiro aprendendo a norma padrão da língua e como fazer, de fato, uma dissertação argumentativa. Está certo o aluno sair da prova do ENEM dizendo “tomara que eu tenha sorte dessa vez”? Sorte é pra quem não estudou, já dizia vovó. Estamos tendo um sistema de educação baseado na “sorte”? Como que isso pode ser levado a sério? Como os erros do nosso país podem ser corrigidos de uma forma tão banal? Não são só de “mestres" da culinária que é feito um país, nem de viciados em futebol – que inclusive deixam isso claro no seu texto – e nem de alunos somente rasoaveis. Está na hora de abrirmos os olhos para a realidade do nosso Brasil, onde a lei do mais fraco que parece se perpetuar, sem que este tenha feito qualquer esforço, nem mesmo para uma nota 1000.