Estava deixando o tempo passar na esperança de um dia passar também a dor que venho trazendo nesses meses que se arrastaram feito um martírio que jamais achei que fosse capaz de suportar. Comecei a perceber que pouco mudou desde o nosso triste fim, nosso inexplicável e trágico desfecho. Venho trazendo você mesmo que sem querer, encaixando sua (in)existência em lugares e pessoas que hoje fazem parte da minha medíocre realidade, vivendo seu fantasma, te carregando como um parasita que me priva da liberdade de ser feliz de novo, de amar de novo, de recomeçar. Já tentei muitas vezes engrenar, iniciar do zero, mas me vejo sempre num marasmo completo. Penso com loucura que talvez seja impossível eu sentir novamente o mesmo como quando você estava presente, que eu nunca mais vá encontrar ninguém e que se eu deixei você se perder, é esse o preço a se pagar e quem sabe, nunca mais amar assim, do nosso jeito. Esse é o resumo do meu novo pesadelo, nem tão novo assim, o que é ainda mais assombroso. Já era pra ter sarado, já era pra ter caído em esquecimento toda essa história e penso mais uma vez que talvez eu não tenha mesmo mais saída. Tentei imaginar você de todas as maneiras que pudessem me ajudar nesse árduo desafio: seguir em frente. Então começo a lembrar. A última vez que nos vimos, a estranha frieza tão pouco característica de você, a sua insistência em não me olhar nos olhos. Repassei aquela cena diversas vezes na minha cabeça, tentando encontrar algum vestígio de que ainda possa haver um antigo você em algum lugar. Mas não houve sinais. Nada que me deixasse crer numa nova chance de recomeço. Não achei mais você em parte alguma naquele momento, embora até hoje seja perseguida nas ruas desertas, no sorvete da praça, em conversas sem rumo, no bar com os amigos, no meio dos versos das minhas músicas preferidas, nos fins de tarde em que costumávamos validar nossas angústias com um pouco de atenção. Percebe como você se tornou um tormento já quase insuportável? Não aguento mais me doer pela insatisfação que me dá sua falta e já me desagrada cansar os outros abordando assuntos que fazem sua menção. Nem pronunciar seu nome me dá mais prazer, pelo contrário, sinto uma timidez angustiada, como se fosse uma espécie de tabu. O que quero dizer é que, por mais que doa, por mais que cada célula do meu corpo lute contra minhas decisões desesperadas de te tirar da minha vida, ninguém me ouvirá mais falando de você, nem fazendo questão de saber a seu respeito, me lamuriando por alguém que nem mesmo existe mais.
"Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer?
Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é que cada vez aumenta ainda mais a minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma outra alegria além de ti.
Como pude cair assim nesse fundo de poço? Quando foi que me desequilibrei? Não quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara."



