sábado, 31 de março de 2012

Na minha coleção de pedras

Vou começar a jogar pedras em todos que se puserem na minha frente mais uma vez tentando me subjugar, porque ameaçar não tá adiantando mais.
Todo mundo vive criando regras do tipo cunho recíproco, todos vivem na ilusão de serem um pouco melhores do que aquele rosto vazio que encara o espelho a cada manhã, depois que o despertador toca, como que um botão automático ativando a vida para mais um dia. Se diz bom dia para ser educado, quando lá no fundo está desejando que o mundo inteiro se exploda.
Não é assim? Se você não se encaixa, por favor, pule para a próxima página da web, eu não sigo padrões e nem dou risada por obrigação, o meu maior defeito talvez seja fazer apenas o que me dá vontade e medir esforços apenas por quem eu ache que mereça e às vezes nem merece.
A verdade é que me dá uma enorme preguiça de avaliar cada passo, vigiar cada palavra, como se eu fosse uma grande desocupada que vive de inventar farsas só porque é legal e é o que seria supostamente aceito por esse grande e ridículo círculo de pessoas que vivem ao meu redor, como urubus só esperando uma falha pra cair em cima.
Estou nessa não é por ingratidão nem por rancor exacerbado, porque até onde eu me lembre, ninguém nunca levantou um dedo por mim e pra ser sincera não estou esperando um grande milagre acontecer, acostumei com a vida assim, íngreme, doída, às vezes um pouco insólita, mas exatamente assim.
E vezenquando, eu perco o sono, rolo de um lado para outro ouvindo vozes inflamadas me dizerem que no ritmo em que ando afastando todos, vou acabar isolada, pairada diante da minha própria solidão. Não entendo como pode ser tão difícil perder-o-controle-da-situação e deixar-escapar-pelas-mãos essa corda que era pra guiar a gente pra um lugar melhor, para onde tudo fosse mais claro e a simplicidade não fosse coisa da imaginação.
Mas com tanta coisa na cabeça, é possível lembrar de ser um pouco mais de mim mesma?


[Try again - Keane]

sábado, 17 de março de 2012

Com que caminho eu vou

Sabe o que amedronta, pra valer, uma pessoa insegura? Possibilidades.
Possibilidade de reencontros, de encontrar-se. Possibilidade de dar certo, bem como a possibilidade de ter que encarar o duvidoso. Possibilidade de uma saída num sábado à noite, de um dia nublado no verão, de ser a última pessoa que alguém pense antes de dormir e não somente alguém que tapa buracos, da possibilidade de um novo ou velho amor, e ainda a possibilidade mais que absoluta de perceber o tempo fazendo seu trabalho de levar e trazer para nossa vida, mais e mais possibilidades.
Descobri um fato sobre mim que pode parecer bem banal, mas vez e outra me pego revirando uma caixa de discos antigos e virando goles do velho vinho barato da estante. Tenho uma afinidade incorrigível pelo errado. Tudo que não presta me fascina, tudo que é pá errada me seduz e eu piro só de ouvir a palavra “perigo”. Quando a situação parece sem controle e um fulano qualquer vem me avisar que achou uns pedaços da minha ingenuidade pra trás, eu afogo tudo que tem pra afogar, faço tudo que vou me arrepender até começar tudo de novo. Então aí entram as possibilidades e o tempo.
Havia muito, os discos abandonados, as cartas não mais enviadas e celulares desligados e esquecidos dentro da bolsa. A situação se converteu para o máximo que a indiferença já foi capaz de alcançar. Nem preciso dizer como às vezes essas coisas, esses desfechos prolongados da vida me assustam. Tão prolongados que quando se dá conta já está em outra, cometendo os mesmos erros de outros jeitos, com novos gestos talvez um discurso um pouco mais inteligente. Mas a essência é a mesma, o que fica e o que provoca, isso nunca muda. Parece que a nossa vida toda é programada para repetir o mesmo filme, só que em cenas diferentes. Isso acaba com a pessoa, principalmente para os inseguros, como nós. E eu, eu estou cansada de fazer esse papel que não é o principal nem o de figurante na vida das pessoas. Chega desse meio termo, ou sou tudo ou sou nada, decidido?
De qualquer forma, o outono está quase aí, uma chance, uma possibilidade de se deixar cair novamente para depois se reerguer. Quem sabe ensaiar uma nova farsa, explorar um pouco mais a introversão do meu mundinho vasto, de bichos ferozes e ervas daninhas. Ri da minha cara quem imagina o que se passa na minha cabeça a cada vez que eu observo, de longe, as felicidades alheias, os abraços que deixaram de me pertencer e às fotografias de vidas em que não sobrou mais espaço para mim. E aqueles que sabem, de fato, os anseios bobos, a minha mania de viver eternamente criando personagens fugitivos e loucamente imprevisíveis, na esperança de me corrigir. Esses, esses sim têm motivo de sobra parar rir da minha cara. 
Vez ou outra escuto uma voz: se permita, se deixa levar porque é por você, navega na própria loucura. Antes isso, que envelhecer dentro de si mesma deixando passar oportunidades. Deixando passar possibilidades. Mas e depois? Se eu me permitir, tudo o que consigo sentir é dor. Eu nunca vou estar um passo a frente do que é bom pra mim, e se houver uma chance, e aí, sou insegura demais, meus caminhos são mútuos e sinto uma paz inexplicável com a solidão, ainda que por vezes a deteste. São tempos difíceis para os inseguros. O que vem depois do verão? Não importa, o fim nada mais é do que uma possibilidade de recomeço.


sábado, 3 de março de 2012

Nos bastidores

Não se trata mais de uma solução. A questão não é simplesmente me dar por vencida, e deixar de ir à luta. O golpe fatal me atingiu, perderam-se as razões para que eu continue insistindo? O fato é que o tal do golpe fatal me coloca em saias justas todos os dias, de todas as maneiras possíveis. Eu finjo que acabou tudo até começar de novo. Eu não sou tão simplesmente limitada ao ponto de querer soluções para as minhas neuras e o eterno medo de encarar esse mundo, que por ser meu, é tão inteiramente complicado e cheio de falhas e perigos que nem eu sou capaz de enfrentar. Esse medo constante que me impede da tarefa árdua de querer ser um pouco mais corajosa, um pouco menos repreendida. É tanta roupa suja que precisa ser lavada, é tanto sentimento desconvexo solto no ar, é tanta fé depositada em juras rimadas a uma quase certeza de que, ah, nada vai dar certo.
Algumas pessoas são iguais aquela carne solta de uma unha que você roeu. Incomoda, mas você não arranca, porque dói. Eu já me conformei com a ideia de conviver com essa realidade de que, por mais exaustivamente que se tente tirar alguém da cabeça, isso não vai acontecer enquanto você não se permitir sofrer, não se deixar levar pelas ondas de calor ou de frio, não importa o tempo que faça lá fora. Por mais violentas que sejam essas ondas, é preciso enxergar que há algum equilíbrio, onde a dor e a satisfação andam de braços dados. No meio de toda essa confusão, eu aprendi que o primeiro passo para se libertar, é aceitar o problema.
Eu bem sei que minhas palavras não fazem mais sentido algum ao que quero transmitir. Era pra ser uma conversa civilizada, acabou se tornando dois corpos ocupando o mesmo espaço, contrariando todas as regras da física e da minha própria lista de regras de autodefesa. Era pra ser, de alguma forma, uma exercício de força que pudesse me ajudar a vencer minhas fraquezas, enfrentar a minha nova lucidez. Mas não. Eu sou menina, sofro de danos colaterais facilmente, sou frágil e não nasci pra encarar esse mundo sozinha. Tenho que ter alguém a quem segurar a mão. E nem sempre vou aceitar de bandeja ou muito menos perceber uma oportunidade que passa a frente desses meus olhos anestesiados de coisa fácil. Coisa fácil é brega, coisa fácil é simples, coisa fácil não existe e nem tem valor. Enquanto isso, ocupo minhas noites insones pensando em quem com certeza nunca vai reconhecer esse meu mais puro, talvez único, gesto de coragem: o de sempre estar no mesmo lugar e pronta para aqueles que talvez nunca fariam o mesmo por mim.