sábado, 29 de setembro de 2012

Every teardrop is a waterfall

Naquele ano eu jamais pude imaginar que na minha vida surgiria uma coisa, algo, alguém que daria tão certo. É claro que o “certo” se restringe à certas particularidades, mas em geral quando eu não banco a “cuzuda” e quando você não precisa me olhar com esses olhinhos julgadores (que me matam, sério), tudo vai bem. A gente não pôde imaginar que daquele diálogo surgiria uma amizade assim, tão cravada, tão enraizada como a nossa. “Você gosta de Harry Potter?” “Gosto!” “Mentiraaaa! Vamos ser amigas pra sempre!”. Não foi bem assim, até porque o tempo alterou minhas lembranças e só o que guardei foi a essência da coisa mesmo. 
Posso dizer? Posso dizer? É que às vezes, nesse último ano que se passa, dá uma saudade que nem cabe. E veja só! Você já tem 18 e oficialmente já pode cuidar de mim, apesar de que idade nunca foi recurso pra que você o fizesse. Eu não sou tão boa em relembrar e muito menos descrever com aquela pitadinha mágica de sentimentalismo que só você tem. Mas aí me lembrei de uma carta que você me mandou uns anos atrás dizendo que quando a gente não sabe o que dizer, a gente conta uma história. 
A verdade é que eu já comecei contando uma história, uma bem divertida que ninguém vai entender, talvez nem nós duas. Uma vez você disse que tinha medo, que você achava não ser digna da minha amizade, sempre tão paranoica. Você me faz parecer A tranquilidade e a paz no paraíso, sabia? Só que eu nunca confiei tanto em alguém, nunca quis tanto que alguém não fosse pra longe, como você foi. Apesar de que a gente se abusa, mas como é mesmo? A gente se basta. 
O que você não sabe é que a sortuda sou eu em ter você, pequena Aluada, e não você por ter minha confiança. Acho que a sorte, de um jeito torto, vem favorecendo os dois lados da moeda e há de fazer muito mais, porque amizade como a nossa cruza as barreiras do tempo e nos torna cada vez mais suscetíveis aos projetos ainda não realizadas e quem sabe desbravaremos os sete mares e faremos aquela viagem doida. 

Posso dizer, agora em terceira pessoa, que ela é emoção. Ela que me faz rir mais da própria risada que da piada. Ela desaprova quando necessário e sabe entrar na onda. Deslocadas, nunca descoladas. Posso dizer que meus muros de concreto pra impedir que alguém entre, não são nada mais que barreiras transparentes, pois ela já desvendou tudo por meio de um bluetooth imaginário. Agora ela, ela é um mistério ainda a ser descoberto. De dentro pra fora. Nunca de fora pra dentro. Afinal, não há razão que resista a isso tudo. 

Uma vez que ela é a parte de mim que se mostra uma verdadeira criança com olhos brilhantes e agora, especialmente, uma mulher com os pés à frente no futuro, não há que se negar que ela vai longe, que ninguém a segura, nem mesmo os sonhos, embora que muitas vezes esfarelados, não a desestimulem a tentar de novo. Tem uma inteligência peculiar, ainda que odeie desde menina ser reconhecida SÓ por isso. Uma beleza que fascina desde a primeira olhada e só quem é bobo demais não perceberá isso. É preciso ter cuidado, não o cuidado tipo pisar em ovos, com ela você não deve limitar só a cautela, ela merece mais, merece a felicidade e o amor que sempre sonhou. Hoje é dia de pedir por isso e eu peço e vou além, que a proteção não te falte e ainda que o mundo te faça sofrer, você sempre tenha a quem recorrer, você tem a mim. 
Já deve ter percebido que tirei alguns trechos da sua carta do ano passado, só que agora os uso diretamente à destinatária. Foste a primeira a me dar aquele impulso básico pra começar a escrever, pobre de mim, apenas uma eterna caloura. Se nada der certo na medicina a gente vira escritora e vai pra Europa escrever uns livros e fumar uns narguilés num chalé na beira do mar. Não espero que você curta essa ideia, relaxa, já acostumei com as nossas incompatibilidades, que só servem mesmo pra nos completar, nunca pra concordar. 
Porém lembre-se que sua almofadinha vai estar aqui se precisar recostar a cabeça em algum lugar, pra rir, pra chorar pra bater – se quiser. Você sabe meu endereço, eu sei o seu e ainda posso a qualquer momento bater aí e dizer “vim pra ficar”, mas só pra te ver feliz, porque eu não te aguento! Brincadeira, não começa com as neuras, é mais fácil você me mandar embora aos berros. Mas ignorando meu completo humor de mau gosto, espero que você saiba que continuo aqui, ainda que de longe, torcendo e amando você da mesma forma. Foi brutal da parte do destino, levar você assim, porém certas coisas quando têm de permanecer, elas permanecem, você permaneceu e com certeza veio pra ficar.

domingo, 23 de setembro de 2012

Teatro dos desafetos



A razão é como uma equação
De matemática... tira a prática
De sermos... um pouco mais de nós!
Que o teu afeto me afetou é fato
Agora faça me um favor



Não pensar é uma matéria que venho estudando arduamente, mas que é, sobretudo, dificílima. Quando penso que repenso que tudo caminha para o lado contrário, será se acha, no fim, que talvez essa seja a maneira que a vida encontrou de me mostrar o que realmente importa? Eu não gosto do que é mostrado, eu faço de desentendida e inauguro todo dia uma definição de mim mesma para mostrar ao resto do mundo. Da realidade a utopia só existe um passo, dançamos? 
 Ontem o tempo esfriou, as coisas esfriaram e eu fiquei sentada boba alienada apreciando meu último suspiro gélido antes de me entregar, impensavelmente, para o mal. Quando falam sobre “mal”, impossível não pensar na cor, na ebriedade, no pedido de socorro. Impossível não se distrair ao mexer com fogo, eu me queimei. O ponteiro do relógio faz sua melodia constante e tediosa ao mesmo que meu coração faz engano, desengano, engano, des (...) até que ponto fingir ser algo que não sou pode me levar? Sozinhos nunca somos os mesmos pra nós assim como somos alguém diferente para cada um e é piegas, assim como o amor, tudo que tem a ver com a mentira, é piegas. É complicado se perder dentro de si e só se achar numa outra alma e ela nem saber disso. 
 Mas não adianta quanta ajuda seja oferecida, ou quanto seu coração ainda se predispor ao looping infinito da não correspondência, pois há quem diga que Drummond foi são e verdadeiro ao escrever Quadrilha, assim como há quem diga, por exemplo, que a primavera é a estação das flores. Já dei você tantas vezes como causa perdida que inevitavelmente perdeu o brilho, perdeu a confiança, se exauriu minha incontestável admiração, a única coisa que ficou foi essa sensação de lâmpada queimada, ferrugem, essa coisa torta a que chamam de Amor Obsoleto. 
 Hoje acordei chorando, mas sequer lembrei do sonho. Chorava com fervor, podia facilmente ser um pesadelo. Minha mãe pedia por mim, pude ouvir gritos desesperados e eu continuei sofrendo aquele pesadelo por um bom tempo. Não sei bem por que, mas deve ser mania da alma da gente se amargurar por não verdades e idolatrar a ilusão. Do mesmo jeito que você finge pra mim e ele finge pra você e assim por diante. 
Eu não tenho mais fé nem coragem de ainda jogar verdades duma maneira de te fazer perceber, porém eu mato o peixe pela boca, mas não fico engasgando esses meus discursos flagelados que repudiam toda essa farsa e ainda param e protestam pedindo mais. Chega a ser brutal a forma como reprimem uma antiga fera inconsolável com migalhas de pouco em pouco de dúvida a dúvida. Você acha que transborda, mas não preenche uma gota sequer.

sábado, 8 de setembro de 2012

(Im)previsto

Eu disse que não voltaria pra você, que não estaria lá por você. Mas, bom, foram tantas coisas que eu disse que não faria e fiz, tantas promessas que eu jurei não voltar atrás e voltei e me permiti navegar nesse mar mesmo sem saber nadar, me deixei afogar no silêncio das palavras não ditas e cair, cair fundo, direto pra tua vaidade, rumo ao-beco-sem-saída-que-você-diz-se-chamar-coração. 
 Disquei sem querer aquele número gravado na minha memória. Igual a você, impregnado, fatigando as madrugadas a fora e dizes sem saber o quê, mas te falta vergonha na cara tanto quanto por atender esta ligação impertinente no meio da noite. Tu me dás as chaves que preciso para engatar o meu senso sombrio, ou melhor, a minha falta de bom senso, o que falta para eu desatar esses nós que fazes e me provocas, garganta, estômago, não faz ideia do poder que possui sobre mim e me pisa e me possui mais do que a si mesmo e se entrega em camas e rostos e fantasias que diz amar, mas tudo o que queres é ser amado e o que tenho não te satisfaz uma gota sequer. 
 Se ainda te chamo agora é porque te preciso, se tu vens é por motivo que desconheço, pois nunca entendi suas idas e vindas, por vezes, simultâneas, que me confunde e me faz sedenta cada vez mais dessa tua água escassa que não deixa faltar, mas que não sacia. Mas se, por exemplo, tu me chamas, eu me demoro por orgulho, mas não aguento em vontade de correr para os teus braços que ora fecham ora se abrem a minha procura, porque não me deixar simplesmente ir? Afunda na tua paixão, na tua loucura e me liberta. Mas não me deixa, não me liberta desse laço, desse nó apertado que parece forca. 
 Quando baixo o tom meio enraivecida meio torpecida, quase que no intuito de ganhar por assim carícias ou a simples atenção fingida de perguntar se vai tudo bem. Mas não vai. Ao baixar o gancho do telefone, o cinzeiro já cheio, quero que já retorne a ligação e diga esqueceu do beijo de boa noite. Mas não liga. E se liga é por assim me prender mais ainda, sem me deixar uma única escapatória que consiga se desculpar da história toda eu-não-sou-sua-você-é-meu-portanto. Não me escreves por acaso, pois o papel é a lâmina, as palavras são as amarras que me seguram. Aproximo tentando fugir e desaponto-me e me doo por inteira. Do verbo doar, do verbo doer. Que espécie de encaixe sou na tua vida é um mistério, pois se não sou quem preferes conversar, muito menos com quem vai escutar seus velhos vinis e deitar-se contigo sobre o tapete da tua sala hoje à noite. Não sou dona das melhores palavras que te fazem dormir ou que te fazem alucinar. Não compartilho os teus devaneios nem nunca serei tua escolhida para tuas aventuras. Não tenho confiança no que dizes assim sem saber o quê, nem desfruto das tuas escolhas irracionais. Acho melhor admitir que não o conheço, afinal.