sábado, 8 de setembro de 2012

(Im)previsto

Eu disse que não voltaria pra você, que não estaria lá por você. Mas, bom, foram tantas coisas que eu disse que não faria e fiz, tantas promessas que eu jurei não voltar atrás e voltei e me permiti navegar nesse mar mesmo sem saber nadar, me deixei afogar no silêncio das palavras não ditas e cair, cair fundo, direto pra tua vaidade, rumo ao-beco-sem-saída-que-você-diz-se-chamar-coração. 
 Disquei sem querer aquele número gravado na minha memória. Igual a você, impregnado, fatigando as madrugadas a fora e dizes sem saber o quê, mas te falta vergonha na cara tanto quanto por atender esta ligação impertinente no meio da noite. Tu me dás as chaves que preciso para engatar o meu senso sombrio, ou melhor, a minha falta de bom senso, o que falta para eu desatar esses nós que fazes e me provocas, garganta, estômago, não faz ideia do poder que possui sobre mim e me pisa e me possui mais do que a si mesmo e se entrega em camas e rostos e fantasias que diz amar, mas tudo o que queres é ser amado e o que tenho não te satisfaz uma gota sequer. 
 Se ainda te chamo agora é porque te preciso, se tu vens é por motivo que desconheço, pois nunca entendi suas idas e vindas, por vezes, simultâneas, que me confunde e me faz sedenta cada vez mais dessa tua água escassa que não deixa faltar, mas que não sacia. Mas se, por exemplo, tu me chamas, eu me demoro por orgulho, mas não aguento em vontade de correr para os teus braços que ora fecham ora se abrem a minha procura, porque não me deixar simplesmente ir? Afunda na tua paixão, na tua loucura e me liberta. Mas não me deixa, não me liberta desse laço, desse nó apertado que parece forca. 
 Quando baixo o tom meio enraivecida meio torpecida, quase que no intuito de ganhar por assim carícias ou a simples atenção fingida de perguntar se vai tudo bem. Mas não vai. Ao baixar o gancho do telefone, o cinzeiro já cheio, quero que já retorne a ligação e diga esqueceu do beijo de boa noite. Mas não liga. E se liga é por assim me prender mais ainda, sem me deixar uma única escapatória que consiga se desculpar da história toda eu-não-sou-sua-você-é-meu-portanto. Não me escreves por acaso, pois o papel é a lâmina, as palavras são as amarras que me seguram. Aproximo tentando fugir e desaponto-me e me doo por inteira. Do verbo doar, do verbo doer. Que espécie de encaixe sou na tua vida é um mistério, pois se não sou quem preferes conversar, muito menos com quem vai escutar seus velhos vinis e deitar-se contigo sobre o tapete da tua sala hoje à noite. Não sou dona das melhores palavras que te fazem dormir ou que te fazem alucinar. Não compartilho os teus devaneios nem nunca serei tua escolhida para tuas aventuras. Não tenho confiança no que dizes assim sem saber o quê, nem desfruto das tuas escolhas irracionais. Acho melhor admitir que não o conheço, afinal.


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