sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Na dúvida, escrevo

Posso recitar mil poesias, querer imitar todos os poetas que admiro ou tentar encantar todos meus amores não correspondidos e ainda me restarão incertezas quanto ao que quero transpassar e o que realmente entendem a meu respeito. Escrevo pecando na vontade de querer ceder o máximo de mim, querendo conduzir todas minhas dores e recordações ao outro, para que ele saiba o que acontece aqui dentro e carregue a mesma cruz. Escrevo para que entendam, acima de tudo, compreendam que posso impedir que me levem ao caos, mas que também sou capaz de travar uma guerra. Não, não estou pedindo para que invadam minha intimidade, até porque, de longe, está prestes a existir alguém tão apto. Escrevo em busca  de uma verdade que se faça explicar, me complicando mais ainda, indagando se seria melhor se eu seguisse à risca minhas objeções. É verdade que quanto mais definições faço de mim, mais imutável sou. Escrevo porque tenho meus motivos de ser assim e não ter poder sobre minhas escolhas, pois às vezes me sinto comandada por um painel de controle ignoto. O mundo anda hostil, mas não vou negar que luto contra todo o mal que existe, não vou ensaiar uma farsa que compromete minha posição e minhas desaprovações diante desse enfermo. Posso até chegar a assumir que não somente me oponho como também compartilho meus vícios e defeitos que nada contribuem para essa coisa que todos procuram chamada paz, muito menos a minha. Escrevo porque possuo demônios a serem libertos, e para alimentar meu egoísmo, eu os solto para que não firam somente a mim.  Escrevo por achar que aqui eu posso um dia instabilizar meus anseios. Por querer descobrir o que fazer quando até os sentimentos caem na rotina. Escrevo para perder o medo de mudar, pra enfrentar o desconhecido e entender que o que me aguarda não deve ser tão ruim assim. Então, finalmente poder me desapegar do que não serve mais e procurar outra forma de substituir o que antes fora essencial. Pode não parecer, mas a complexidade das dúvidas é que geralmente pensam por mim, muito mais do que a exatidão das certezas. Por isso escrevo.

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