Estive lendo cartas velhas, textos antigos e vendo lembranças passarem rapidamente, sem pena, comecei a lembrar. Nossa inocência, aquela ausência bonita de maturidade. Ríamos das maiores bobagens, e o melhor de tudo, sem culpa nenhuma. Não era necessária explicação, nem para nós mesmos, afinal, qual é o propósito em se explicar? Éramos tão diferentes, bobos, querendo algum espaço um na vida do outro e a gratidão que dava quando esse espaço era tomado, com sorrisos sinceros e abraços que emanavam uma espécie de segurança. Éramos íntimos, de passar a madrugada inteira trocando confissões, fazendo piada até mesmo das nossas próprias desgraças e qualquer detalhe que acontecia era preciso ser contado o mais depressa possível, era uma obrigação que confortava. Com o tempo, fomos criando uma tipo de similaridade afetiva, dessas que nos fazia ouvir as mesmas músicas, ler os mesmos livros, ter as mesmas conversas e até ter a mesma opinião a respeito de tudo. Sem contar das tantas vezes que bati de frente com qualquer um que tentasse se indispor contra nós, não ligava a mínima se aquilo ia me afastar de todos que até então eu amava. Éramos inconsequentes. Quando nos metíamos em confusão só porque queríamos um motivo diferente pra rir no dia seguinte e a minha lista de primeiras vezes que aconteceram nas poucas vezes que nos encontramos. No meio da semana faltávamos compromissos, adiávamos tudo só para sentarmos em qualquer uma dessas mesas de bar e tomar alguns goles de bebida. No final da noite, quando já estávamos cansados de falar mal daquela galera ousada que não curtíamos ou de reclamar das nossas próprias vidas, tínhamos o ombro um do outro para se recostar e só aí começar a pensar numa maneira de voltar pra casa. Mas não importava, porque tínhamos algo que ninguém mais tinha. Tínhamos um ao outro.
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