Nunca esperei encontrar estabilidade em qualquer relação de convívio que pudesse me trazer serenidade ou arriscar me envolver em algo que eu sei que minha autoconfiança não permite alcançar. Sempre gostei de estabelecer os prós e os contras antes de começar uma amizade com alguém. Sim, eu já fiz muitas análises a respeito de cada um de vocês, mas não sou paranóica, gosto de substituir isso por uma palavra mais bonita e poética como “insegurança” ou “precaução”. Fico me perguntando como mesmo assim eu ainda erro na jogada, tem gente que consegue me enganar bonito, mas tudo bem, é preciso acabar com esse medo.
Não faço ideia como certas pessoas entraram na minha vida, só sei que é muito difícil imaginá-la sem algumas delas. Eram apenas uns tímidos “olá, tudo bem” e “tchau, a gente se vê”, que virou de uma hora pra outra comentários mais dialéticos sobre filmes e livros, comunitarismo na hora de dividir as atividades do dia seguinte, vergonhas alheias compartilhadas em certos momentos insanos e análises viajadas sobre nossos estúpidos sentimentos frustrados.
Não que tudo isso seja sinônimo de uma verdadeira amizade cheia de perfeições, laços tão fortes que podem ser chamados de fraternos. É apenas uma leve semelhança a essa coisa toda que vemos nos filmes e nos dá vontade de criar essas pessoas como um suporte pras horas necessárias, só que é um erro pensar que é tudo sobre nós mesmos. Vocês, mais do que ninguém, me ensinaram que amizade não é algo que eu tenha que me apoiar, algo que eu tenha levar ao fundo do poço junto com todo o resto, é preciso não pensar só em mim. A partir do momento que eu passei a querer o bem de outros, o que era essencial pra mim, vira supérfluo quando estou com vocês.
Eu tive muito em que pensar. Não é fácil decidir quem é que deve ficar pra traçar um caminho com a gente. Não que eu tenha decidido algo. Boa parte não coube a mim, acho que se dependesse da minha boa vontade eu estaria sozinha e é aí que eu encontro maiores motivos para agradecer às pessoas que não abriram mão de me fazer sorrir – ou pelo menos tentar arduamente – nem quando eu dei razões mais que relevantes para fazerem isso. Talvez eu deva mesmo começar a dar mais atenção a isso, ao que interessa e é interessado, ao que me faz bem em proporções que eu nem sabia que era possível. Talvez eu deva começar a dar mais valor, sobretudo à simplicidade de pequenos momentos como uma tarde à toa sem nada pra fazer ou deixando tudo sem fazer, pelo simples fato que as preocupações podem ficar pra depois, mas as amizades não.
E ainda bem que eu tenho pelo menos essa certeza de que fiz algo certo. Pessoas maravilhosas ao meu lado, que me dão trabalho e irritam de vez em quando, mas que sabem poupar tudo isso na medida certa. E mesmo que nós percamos esse entusiasmo de juventude mais tarde, que fique guardado em algum lugarzinho da memória – sem desculpas de sequela de velhice – o que foi aprendido e as boas lembranças, pois eu acredito que esse tipo de amor não perde o brilho. Posso nunca ter procurado perfeição, mas sem dúvidas vocês chegaram bem perto disso.










