Pedi tanto para que algo de diferente acontecesse na minha vida, algo que não fosse esse aperto desgastante no peito, o vazio que, de propósito, você deixou aqui. Nem por um segundo tentei me livrar das mordaças em que estive presa. Por que razão eu iria querer deixar pra trás o único elo que ainda tínhamos? Nem que fosse apenas dor, ainda era o que você tinha deixado pra mim. E abrir mão disso, impossível.
Nem sei se é uma confissão, mas estou aqui agora confessando que não ando mais chorando. Nenhuma gota de lágrima de tristeza por causa de você, tampouco de felicidade, porque veja só, alguma coisa aqui adormeceu. E por mais felizes que alguns dias possam ser, é sempre pela metade que eles terminam. Sem coração pulsando acelerado contra as cobertas da cama durante a noite, sem ansiedade por um novo dia. Não há nada para se esperar. 
O telefone nunca mais tocou. Acho que as pessoas desistiram de animar alguém que não quer ser consolado. E a desolação, por mais triste que seja, às vezes consegue fazer algumas surpresas. Ontem eu senti um calor velho conhecido meu que me fez ter certa esperança de que nem tudo estava perdido. Será que a morte de um amor pode deixar brecha para um novo pintar? Não, meu bem, não é isso, eu ainda me sinto meio adúltera em pensar em uma nova paixão, veja só o quão ridícula sou. Algumas coisas nunca mudam.
Eu parei de me sentir feito um animalzinho ferido se escondendo pela escuridão afora, mesmo tendo certas horas da noite que sou pega tendo vislumbres seus. Só que saudade, eu nem sei mais se essa falta pode ser chamada de saudade. Uma parte minha sabe que não quer você de volta, mas outra insistentemente não desiste. 
Sei que estou praticamente indo pelo mesmo caminho, tentando dar continuidade a algo que não vai se concretizar ou criando novas ilusões, tentando achar uma escapatória mais eficaz. Não é assim que funciona, nunca foi, então qual é o problema em desapegar dessa emoção dolorida e se entregar numa outra, ainda que irreal, mas que não envolva os meus sentimentos referentes a você? Acabei de me contradizer – de novo. Eu tinha deixado pra lá, era esse o acordo. 
Vai se esvaindo então qualquer tentativa de aceitar, quem sabe, uma proposta duvidosa ou até mesmo oferecer algo que eu sei que não posso dar, tudo pelo prazer momentâneo, pela filosofia de vida que me propus a seguir “pisar nos outros antes que eles te pisem”. Eu costumava gostar de tudo isso, dessa despreocupação a favor de um estilo de vida mais casual, mas nem lembro quando foi a última vez que abandonei a segurança do meu lar para me embrenhar na noite da cidade, me deixar à mercê de correr riscos, me aventurar e não ter medo do dia seguinte. Você me envelheceu precocemente, meu bem.
E então por mais que eu queira uma novidade na minha vida, parece que sempre tem você, essa pedra no meio do caminho. Vou trancar em alguma caixa a mágoa que sobrou e jogar a chave fora. Posso seguir, talvez não tão tranquilamente, um pouco mais dolorida, bem mais dura, e com uma esperança amargurada de que talvez você ainda me encontre numa farra, no meio de vários novos amores de mentira e que sinta a mesma certeza que eu sempre tive: minha alegria nesse mundo nunca foi real sem você.

Nenhum comentário:
Postar um comentário