É como se eu fosse sempre obrigada a fazer parte de um filme antigo que já enjoou. A cena se repete, o elenco é o mesmo, só mudam os personagens. A equipe de produção é incompetente o suficiente para não reparar os erros. Então eu fico de mãos atadas, sem saber muito que fazer a não ser assistir os danos que eu mesma causei pelo meu irreparável descaso, minha própria dívida de favores não devolvidos e afetos não retribuídos. De repente passo de atriz ruim de uma peça de péssima autoria para uma das poucas na arquibancada, que está ali por algum motivo banal ou porque foi obrigada, não importa, o fato é que estou louca para ir embora pelo simples motivo que não aguento mais um segundo de melodramas falsos, de desenrolares cheio de tédio com emoções limitadas e de repertório deprimente. Estou com medo de sobrar, vendo tudo escorrer pelas mãos, as pessoas saindo uma por uma, exaustas de tanto desaforo e demonstrações de apoio rudemente ignoradas. Talvez eu tenha me esquecido. Pode ter sido distração, falta de tempo, pode ter sido até comodismo. Posso também continuar enchendo linhas de desculpas esfarrapadas para meu excesso de falta de atenção e o egoísmo descontrolado que insiste em se vestir de capa preta e fazer pose de vilão me retirando de cena da vida de todos que eu tentei manter por perto, por ser algo construtivo e bom a se fazer, porque ainda é o que completa uma pessoa e dá sentido na vida dela: ter alguém por perto e do lado: sempre. Tive que deixar partir. Estar ao meu lado não é reciprocamente saudável quanto é pra mim ter outros como ponto de força ou qualquer coisa assim. Quero desesperadamente acompanhar as pessoas que saem murmurando frases de raiva, mágoa e até deboche, “ridículo” e ainda “que perda de tempo”. Alguns saem chamuscando de tanto ódio, outros mal contém o choro e penso que talvez seja por esses que ainda valha a pena dar motivos para retornar, ou quem sabe já seja tarde demais. Eu quero sair também, quero me livrar desse peso junto com todo mundo, não quero ficar sozinha, mas sou impedida, não se pode abandonar o próprio roteiro.
Sozinha você não ficará nunca. Sou pé-no-saco, não te largarei jamais.
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