And all at once
It gets hard to take
It gets hard to fake what i won't be
'cause one of these days
I'll be born and raised
and it's such a waste to grow up lonely
Imagino a sensação de sentar numa varanda, fim de tarde, sol indo embora com os últimos vestígios de chuva. Imagino juntar algumas notas de violão e tocar, vento, brisa, sombra de árvore soprando uma melodia, mas eu não sei tocar violão. Então eu fiz tudo isso, reuni alguns sopros a minha própria intuição, acho que consegui tocar um versinho de gaita. Imagino como seria se eu soubesse tocar violão. De fato eu montaria uma cena mais cinematográfica, mas a perfeição nunca esteve no meu currículo. Se eu traçasse uma nota musical, se eu inventasse um verso, seria com base num sopro de gaita, borraria um papel com trechos de um blues antigos e ficaria satisfeita.
Quanto tempo eu já não perdi me chateando com minha incapacidade de atuar minha versão mais simples, menos peso no ar, mais voo de passarinho querendo se libertar. Quanto do que eu já deixei passar lutando... Espera, hoje não quero usar palavras muito duras como “lutando”. Então, nessa breve pausa, esqueci-me de onde quero chegar, ser pássaro em busca de libertação nunca foi fácil. Talvez eu seja um canário, um beija-flor ou um daqueles mais escuros... Palavra dura novamente, escuro também não era onde eu queria chegar.
Retomando, talvez eu não seja um completo desperdício de tempo, talvez eu esteja buscando um caminho não tão claro em prol da minha causa, acho que era isso que eu queria dizer com “lutando”, era pela minha causa. Perdida, desesperançada, eu queria enxergar menos gaiola, menos prisão e sentir bons ventos em minha direção. Nunca fui boa com versos, mas acho que essa prosa está quase virando poema com tanta rima. É o medo despertando o melhor e o pior de mim, o medo de cortarem minhas asas, vivem cortando, podando galhos de árvore com meu ninho, ludibriando meu canto.
Ainda estou tentando descobrir os motivos por trás da minha aflição, mas hoje prometi não me complicar. É desafiador, até pra mim, não ser amarga, de novo e de novo escrevendo durezas e inexatidões, fazendo nó, curvas, quando tudo o que quero é seguir reto, numa direção exata. Moço me devolve a gaita, eu gosto de música que tem gaita no finalzinho, eu quero aprender o que eu gosto. Quando eu tiver um canto pra chamar de meu, um que não seja essa jaula de divagações complexas – a vida tem que ter um sentido, uma causa que não seja esse muro de complicações – criarei um peixe, quem sabe dois e darei nomes que não me leve de volta para os pensamentos de dentro da prisão, a gente tem essa mania de dar nome as coisas que nos fazem lembrar. Então eu regarei um jardim, dispensarei as flores cheias de espinhos.
Estou pensando em me mudar, abrir mão, promover o desapego, já diriam antigos amigos que tive. Tem uma vastidão pra voar, mas eu continuo me sentindo mais presa que nunca. Estou tentando chegar num ponto fatal aqui. Fatal é palavra dura, talvez eu coloque o “L” no meio da palavra e fique “falta”. Moço me dá a gaita, estou tentando chegar ao ponto que falta aqui.















